Covardia

Não me trates como mais uma
Que conheceste numa noite qualquer 

Não me trates como a amante

Que tu escondes da mulher 

Seja honesto e corajoso

A covardia está apagando o fogo

Assume o que quer antes

Que seja mais dispendioso

Não me deixes aqui te esperando 

Para vires e logo depois ir-te embora 

Que quando lembro de ti

Eu choro

Não vês que estás a me magoar?

Essa garota que sempre admirou

Tua liberdade e coragem

Não te quero ver até que te resolvas

E essa decisão me dá imensa solidão 

Quando lembro do afago do beijo do jeito

Meu pranto vira desejo

E me ponho então a chorar e amar

Como só uma mulher sabe fazer 

Como Vinicius admirava 

E escrevia em seus versos

Posso me arrepender, porém 

Confio tanto em teu amor 

Que te deixo em paz a decidir 

Olha e veja a realidade 

Da tua situação 

Homem que se demora acaba 

Cantando só um triste samba canção 

07/01/24

Separação

Exausta me sinto
De ter que estar em todos os recintos
Para te acompanhar 
Se não, outras hão de chegar 

Todos temos uma vida 

Que nos condiz 

E, se assim não for, 

Que a reescreva com um giz

Mas é preciso estar, sempre estar

Ser feliz, sempre bem feliz

Para o público que nos assiste

Que, não obstante, faz o que eu não fiz

São tantos contatos, tanto passado

Tantas chances que não param de chegar

Melhor seria eu me obstinar 

E te deixar para ir viver 

Que sou correntes em um pássaro

Que acha que não quer mais voar 

Não está sabendo que o seu maior desejo

É a liberdade de não precisar voltar 

Quem não sabe ser livre 

Não se acostuma com o querer voar 

Deixemos de briga que um dia a vida 

Naturalmente nos separará 

E eu deixarei de me cansar 

E tu voltarás ao teu ninho 

Do qual sabes ir 

Mas para o qual, quando queiras, poderás voltar 

25/12/23

Blefe

És tão vasto e tão pequeno

Invades meus sonhos

E, mesmo lá, me vês sofrendo

Deixe desse hábito horrível

De me enganar de forma tão incrível

Que a vida me põe a lamentar

Se estás com outras

Não me minta

Que não hei de perdoar

Se pensas em outras

Com elas quedarás

E a mim, só hei de lastimar

Não subestime a inteligência da mulher

Que vê, em sonho, um erro qualquer

Tenha a decência de se explicar

Assim, pelo menos uma parte de mim te respeitará

Soneto de Insensatez

 De tudo ao meu amor serei atento

A todos os seus movimentos

Que não cessam 

Mesmo ao meu sangrar

Quero vivê-lo em cada vão momento

Que até em sonho segue sendo meu alento

E me alimenta todos os dias

Seja de amor puro ou de recusa fria

E assim, quando mais tarde me procure

Estarei em dúvida a te esperar

Sem saber se voltarás 

[E então que] Eu possa me dizer do amor (que tive)

Que a vida em sua crueldade enxugou

As lágrimas que em meu leito derramou.

Nostalgia amorosa

Agradeço muito a todos os meus amores
Porque sem eles eu não conheceria as dores
E as alegrias de amar sem pudores

Agradeço aos mais amáveis
Por me terem cuidado
E se preocupado
Mesmo que não fosse fácil

Agradeço aos mais sinceros
Por não terem me poupado
Das verdades que o amor gera
Que quem mente não merece ser amado

Agradeço aos mais amigos
Por terem rido comigo
E compartilhado também os choros
Que trouxeram todos os agouros

Agradeço aos mais bonitos
Por me fazerem sentir bonita também
Mesmo que a beleza fosse sempre sem
Razão alguma que a fizesse valer

Agradeço até aos mais brutos
Mal educados e aos mal falados
Por me ensinarem, mesmo sendo caro
Que o amor não depende de fatos

E uma paixão precisa de cuidado
Carinho e amizade
Para que se faça bem amado
E não seja um mero aprendizado

04/12/23

Insanidade

Quando estou sóbria vejo coisas demais
Vejo mais do que devia 
Mais do que a cabeça suportaria 
Não quero estar sóbria

A sobriedade não me satisfaz 
Não quero ver a luz da consciência 
Tão dura quanto pedra a quebrar
Das alegrias a luminescência 

Quero estar livre desse peso
De pensar demais e amar de menos
Por isso bebo vários copos a esmo
Para que o mundo fique pequeno

E eu vire loucura a enlouquecer 
Um coração que sóbrio não se dá
Não faz parte
É pequeno demais 

A loucura me satisfaz 
Muito mais do que a sobriedade 
Consciência não me supre
Me afasta dessa sanidade

26/11/23

Escondida

Para me ocultar,
Mudas meu nome
Me apagas de teu telefone
Me fazes deixar de existir.

Não sabes o quanto é difícil não ser
Não ter nome nem rosto
Vivo neste eterno alvoroço 
De não mais me reconhecer 

Escondes minhas roupas e sapatos
Me levas para um quarto
Onde nós dois não somos nada
Lá me soltas e me desfaço 

Não posso mais viver 
Esta eterna ingratidão 
Toda essa situação 
Que continua a acontecer 
Porque você só sabe me esconder.

26/11/23